segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

"JÓ E SEUS AMIGOS!"

"... em vez de me consolarem, vocês me atormentam." Jó 16 v.02. 



Temos testemunhado uma sequência infindável de tragédias da natureza, como tsunamis, terremotos, inundações, secas, temperaturas de extremo calor, ou de frio (agora mesmo escrevo de um lugar com temperatura de -23° C). Tais desastres ambientais trazem consigo um número incalculável de vítimas que se foram, mas também vítimas que ficaram. Quando conhecemos alguém que morreu nessas circunstâncias, sentimos a dor por dentro. Caso contrário, a morte de milhões pode ser simplesmente uma estatística para comentar.

Histórias de calamidade me remetem ao ocorrido com Jó, narrado no livro mais antigo da Bíblia que leva seu próprio nome. Jó era alguém que tinha todo o tipo de benção que uma pessoa possa almejar: saúde espiritual, física e emocional, família, amigos e bens materiais. De repente - e como esses "de repentes" surpreendem - foi vítima de uma sequência de tragédias tais que o fizeram perder tudo e todos que mais lhe valiam. Em suas próprias palavras, tornou-se pele e osso. Pior, pele e osso em decomposição.

Em meio à miséria, choro e sofrimento, chegam seus amigos. Puxa, finalmente, um pouco de consolo. Consolo? O que fazem é acusar, oprimir, maltratar, atormentar, condenar, e, pior, tudo em nome de Deus. Em suas mentes e corações existe uma sentença clara: Jó é culpado! Tudo o que lhe aconteceu é fruto do seu pecado. Acham que a desgraça que se encontra prova sua culpa. Acreditam nisso que falam. Mas não percebem a sutil arrogância que se esconde nessas palavras. Quando apontam o dedo para o sofredor, não estando em sofrimento, promovem-se à condição de merecedores de sua vida abençoada. Esses sim são coitados, desprovidos de discernimento, equivocados em sua estrutura mental, errantes em seus pensamentos. 

A miséria conduziu Jó à plena consciência de sua dependência de um redentor (Jó 19.25), de que nada do que tinha ou era provinha de si mesmo. (Jó 01.21) Em suas palavras, eu preciso de alguém que me defenda diante de Deus. (Jó 16.21) Sua dor trouxe um grito de clamor pela presença de Deus: Ó Deus, só tu podes garantir o meu livramento; quem mais tenho eu para ser meu fiador? (Jó 17.03) Mesmo que de uma maneira confusa, Jó expõe seu coração e Deus ouve sua oração. De uma forma estranha, mas maravilhosa, Jó enxerga a grandeza, soberania, poder, graça e amor de Deus. Aquele que antes só conhecia Deus de ouvir falar, passou a vê-lo com seus próprios olhos. (Jó 42.05).

Não sei sobre você, mas, volta e meia, sou flagrado com o mesmo comportamento dos amigos de Jó. Vejo calamidades e saio rapidamente com sentenças e julgamentos diretos, do tipo: "é fruto da idolatria", "é consequência da perversidade", "é julgamento divino", etc. Meu Deus, quanta ignorância e orgulho. Eu poderia ter sido a vítima dessa tragédia! Será que continuo achando que fui preservado por minha "bondade" ou "santidade"? Claro que não! Agora, se não fui atingido, tenho um papel a desempenhar. Somos chamados a consolar os que choram, animar os aflitos, trazer esperança aos desesperados, não como os amigos de Jó, mas como verdadeiros amigos. Ao invés de usarmos nossas mãos para apontar o dedo em acusação, devemos estendê-las para ajudar e abraçar. 

AUTOR: Rodolfo Garcia Montosa

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