Não é fácil pastorear em tempos de crise. Mas, qual pastor conseguiu o
feito de pastorear em tempos sem crise? O pastoreio de Jesus, por
exemplo, foi realizado em meio às mais diversas crises. Fizeram de tudo
para destruí-lo, até que conseguiram matá-lo (sem, contudo, vencê-lo).
Moisés,
por sua vez, exerceu sua liderança em meio à murmuração irritante de um
povo que não se contentava com nada, e ainda se encantava com o que não
vinha de Deus. E Daniel? Sua proeza ministerial mais fácil foi
enfrentar os leões famintos em sua própria cova. A proeza difícil, essa
sim, foi sobreviver aos invejosos que fizeram de tudo para que ele fosse
não apenas afastado de seu cargo, mas morto publicamente. Isso é que é
pastorear em tempo de crise.
Quer crise maior que a do pastor
Oséias, que descobre que sua própria esposa estava fazendo programas
sexuais com todo tipo de homens na cidade, enquanto ele se ocupava com a
liderança de seu rebanho? Como pastorear em meio a esse tipo de crise?
Por
onde passo encontro pastores em crise, boa parte deles querendo deixar
suas igrejas. E muitos já o fizeram, pois não suportaram a pressão. Este
ano um pastor conhecido meu se matou em meio a uma profunda crise de
depressão. Terminou sua vida muito diferente daquele mesmo homem que
encontrei há alguns anos, em um Congresso Internacional na África, numa
reunião de evangelistas mundiais. Tirou a vida, tentando encerrar a dor
da alma. Meu Deus! Que crise!
Eu, pessoalmente, entendo que a
crise maior pela qual passa um pastor atualmente é a crise vocacional.
Já houve tempos em que a vocação era uma certeza incontestável. Todos
sabiam quem de fato era pastor. Entretanto, essa certeza hoje não mais
existe. Há uma multidão se dizendo pastores, ainda que a maioria não o
seja. Esbarrando nos verdadeiros pastores (sempre a minoria: veja a
História), há pastores para todos os gostos: pastores jovens e
inconvenientemente abusados (para parecerem moderninhos); pastores
velhos e irrelevantes, sempre defendendo o passado; pastores
tradicionais e anacrônicos, defensores ferrenhos do ritualismo pelo
ritualismo; pastores liberais e permissivos, que transformam suas
igrejas em becos escuros do mundo; pastores eletrônicos que pregam a si
mesmos, utilizando-se de uma mensagem aparentemente evangélica; pastores
mercantilistas, que negociam o rebanho como quem compra e vende ações
na Bolsa. Há até pastores sem igreja: o cúmulo do pastoreio.
As consequências éticas de tudo isso surgiram nas últimas décadas. Os
escândalos proliferaram na mesma proporção que brotavam do chão (e não
do céu) os pastores de si mesmos. Não são poucas as agências financeiras
que negam emprestar dinheiro a pastores, pois o rombo do calote tem
sido grande. Ser um fiel pastor nesse meio é viver uma intensa crise: a
crise de Jeremias no meio dos falsos pastores (Jr. 23:01-02), a crise de
Paulo em meio ao perigo dos “falsos irmãos” (IIº Co. 11:26), a crise de
Moisés, ao descer do Sinai e encontrar os adoradores do Senhor
envolvidos em orgias, idolatria e bebedeira (Ex. 32:06).
E o que
dizer da crise dos filhos pastorais fora da igreja? A crise da esposa de
pastor amargurada com o rebanho? A crise do não reconhecimento da
fidelidade pessoal, enquanto o ímpio, que se autoproclama “pastor”, é
alçado à categoria de homem honrado do ano?
Como pastorear em
tempos de tanta crise? Primeiramente, é preciso ter consciência da
vocação. Foi Deus quem o chamou e Ele é quem o sustentará diante das
perseguições, calúnias, desprezos. Mire-se no exemplo dos profetas e dos
apóstolos. Todos esperavam nada dos homens e aguardavam com bela
expectativa “o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fl.
03:14).
Em segundo lugar, mantenha-se saudável. Concentre-se não
apenas em sua saúde espiritual, mas também na saúde física, mental e
emocional. Um bom pastor em tempos de crise precisa ser equilibrado
emocionalmente para tomar decisões corretas. Precisa ser saudável
fisicamente para conseguir realizar todas as tarefas (que não são
poucas), precisa ainda ser ajustado mentalmente para transmitir com
equidade a Palavra de Deus.
Para pastorear em tempos de crise é
preciso ainda ter amigos. Observe os amigos que Deus lhe tem dado.
Dentre eles deve haver uns dois ou três grandes amigos, com os quais
você pode compartilhar a sua própria vida. Estes são os seus amigos de
oração, que vão ouvi-lo atentamente, tomando um bom café num fim de
tarde, e ainda serão capazes de gargalhar da vida.
É preciso
fazer assim para sobreviver às crises. Sobrevive a elas, o pastor que
não perde de vista a autenticidade de sua vocação, nem o cuidado com sua
saúde, tampouco a bênção de compartilhar a vida com os verdadeiros
amigos, e por eles ser socorrido.
Que seja assim. Amém!
AUTOR: Samuel Costa
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