E tudo quanto fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai. (Colossenses 03:17)
A tarefa de educar deve ultrapassar as fronteiras do relacionamento formal de uma sala de aula ou de um auditório; deve alcançar todas as áreas da vida humana. Educar para a vida é a chave para uma sociedade mais justa e mais feliz. Quando o que se ensina/aprende “intra-muros” não tem sua relevância e importância na realidade “extra-muros”, chegamos ao momento de reavaliar métodos, valores e princípios.
Educar é comunicar, interagir num relacionamento educador-educando onde um torna-se o outro e vice-versa. Mas esta comunicação com a qual estabelecemos relacionamento com o outro não consiste de um só aspecto, mas dois: palavras e atitudes. Se desejamos educar para a vida e não apenas para o (mal) cumprimento de nossas obrigações e responsabilidades, devemos estar conscientes de que nossas atitudes “falam” tão alto quanto nossas palavras.
Palavras são importantes neste processo. Segundo Wittgenstein “os limites de nossa linguagem denotam os limites de nosso mundo”. É fundamental que nossos educadores falem cada vez mais e melhor para que os educandos também falem mais e melhor. No entanto, as atitudes também são importantes. Com elas corroboramos ou negamos aquilo que dizemos. Conta-se que certo educador, prestes a proferir uma palestra sobre a liberdade que resulta da educação, constrangeu-se profundamente ao perceber que era escravo de seu vício de fumar. Como falar sobre liberdade sendo escravo? Naquele mesmo dia decidiu que iria deixar o cigarro.
Vivemos dias em que falta coerência entre nossas palavras e atitudes. Quando uma não contradiz a outra é o contrário. Coerência é o imperativo de nosso tempo. Paulo, quando escreve aos colossenses o texto acima, tem em mente esta verdade: é preciso haver coerência entre palavras e atitudes em todas as áreas da vida, ou seja, em tudo quanto fizermos, em palavras ou em ações.
O problema da coerência, entretanto, está na intrínseca incoerência do ser humano. Somos naturalmente incoerentes. Falamos de amor mas odiamos, ao mesmo tempo em que amamos mas proferimos palavras de ódio. Proclamamos liberdade mas escravizamos em nossos sistemas de injustiça e opressão, ao mesmo tempo em que somos capazes de atitudes libertadoras em nome de ideologias escravizantes que queremos legitimar. Confessamos a existência de Deus mas vivemos como se Ele não existisse. Por mais que nos esforcemos, nossa incoerência interna torna-se evidente em nossas atitudes externas.
Como resolver nossa incoerência? Não podemos. É por esta razão que Paulo nos indica o caminho da solução que Deus providenciou: Jesus Cristo, o Senhor. Nossa incoerência só pode ser vencida quando nos permitimos viver na coerência do amor de Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. É em seu Nome que encontramos a coerência necessária para falar e agir com justiça e amor. Nossa solução não está em nós nem depende de nós; foi providenciada por Deus na pessoa de Jesus de Nazaré. Se falarmos e agirmos em nome dEle e não no nosso, aí está a coerência que buscamos.
Isto significa, portanto, que educar para a vida, na igreja, na escola, no lar e onde mais se queira fazer isto, é educar a partir do referencial dado por Jesus e de Seu senhorio sobre nossas vidas. A extensão do alcance de seu ato redentor extrapola os limites das realidades espirituais e transcendentes, alcançando e transformando realidades materiais, relacionais e imanentes. Educar para a vida é educar em o Nome de Jesus. A identidade do educador dá lugar à identidade de Cristo, o Senhor. Ele, sim, foi coerente em tudo e para com todos.
Mas não podemos nos esquecer da gratidão. Não podemos educar – nem fazer qualquer outra coisa realmente relevante – sem termos os nossos corações agradecidos. A vida é dom de Deus. A solução da incoerência humana em Cristo é iniciativa graciosa de Deus. O talento para o exercício das atividades pessoais vem de Deus. Nossa tarefa consiste em cumprir nossa vocação e nossa missão em gratidão a Deus. Tudo que nos compete é sermos agradecidos. Assim, a relação educador-educando – que pode ser professor-aluno, pastor-ovelha, pai-filho, etc. – ganha uma dimensão absolutamente nova, onde Deus é a razão principal do exercício coerente da tarefa de educar. É pela mais profunda e absoluta gratidão.
Em tempos como o nosso, onde a incoerência domina as relações entre os seres humanos, e deles com a natureza e o universo, é necessário que recuperemos a dimensão do senhorio de Cristo sobre todos e busquemos a coerência que há em Seu nome. Em tempos de egoísmo e orgulho como o nosso, onde cada um e todos correm atrás de seus próprios interesses e realizações, é necessário que recuperemos a dimensão da gratidão a Deus por todas as coisas. Que Deus nos abençoe nesta tarefa!
AUTOR: Marcelo Gomes
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